Conferência com Oscar Cesarotto (1)

"O Imaginário" - Módulo 2 - curso "Lacan, uma introdução"

Oscar Cesarotto é psicanalista, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, autor de vários livros e artigos, co-autor com Márcio Peter de Souza Leite tanto na publicação de livros como em outras parcerias, como o site www.pucsp.br/ psilacanise ou entrevista realizada por ambos com o físico e fundador da Lógica Paraconsistente Newton da Costa, ou mesmo seus artigos e debate na  Folha de S.Paulo. Enfim, o percurso comum de Oscar Cesarotto e Márcio Peter se confundem com a história da psicanálise lacaniana no Brasil, mais especificamente em São Paulo, como escreve o psicanalista Geraldino A. Ferreira Neto: "Quase poderia dizer que a história da psicanálise lacaniana em São Paulo pode ser montada com base na produção, ora individual, ora comum, desses dois fecundos articuladores do pensar psicanalítico".


Conexão Lacaniana: Estamos aqui com o dr. Oscar Cesarotto. Gostaria de orientar os participantes que fizessem uma pergunta por vez.

Pergunta (RJ): Acho muito interessante considerar a criança diante do espelho como uma das primeiras experiências desta para estabelecer um esboço do eu. Mas me despertou curiosidade, ao ler os textos deste módulo, pensar em como se estabelecem os primeiros esboços do eu e das identificações primárias em crianças cegas. Na mesma linha, questiono: 1) como fica a alienação fundamental de uma criança cega se esta não se percebe através da imagem refletida de si mesma e 2) como se dá a identificação nessa criança, se entendermos identificação como a transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem.

Oscar Cesarotto: Bem, uma criança cega sempre terá o toque materno para reconhecer o contorno do corpo, e assim seria libidinizado. O imaginário (a gestalt) decorreria do toque real, além da nomeação simbólica (a fala da mãe).

Pergunta (RJ): Tive a sensação de que o olhar é um elemento fundamental na constituição do eu, daí entender que, se assim é, fiquei a imaginar o comprometimento que isso geraria na elaboração de uma criança cega. Essa problemática tem sido estudada? O senhor tem conhecimento de alguma pesquisa?

Oscar Cesarotto: Sim, já foi estudado, começa obviamente com o olhar do Outro, que permite que até quem nasceu sem visão de organize tridimensionalmente. Óbvio também, as pessoas cegas são um pouco diferentes...

Pergunta (SP): Gostei da pergunta do Nilson. Para pensar nela, a gente precisa fazer a distinção entre olhar e visão. Há olhar sem visão, então?

Oscar Cesarotto: O olhar do Outro, exterior e estruturador.

Pergunta (SP): Gostaria de entender a colocação lacaniana que diz que a mulher/feminino e também a relação sexual não existe.

Oscar Cesarotto:
Ediana, não haveria "A" mulher, uma categoria universal que englobasse todas num mesmo conjunto. Existem "as" mulheres, singularmente disjuntas, uma por uma.

Pergunta (SP): Bom, inicio com a colocação de Lacan que diz que a relação sexual e também o feminino não existem.

Oscar Cesarotto: Não existiria o "eterno feminino", denominador comum para todas, como sempre se disse, ideologicamente.

Pergunta (SP): Existiria O homem?

Oscar Cesarotto: O "homem" sempre foi colocado como a medida de todas as coisas, como se a versão masculina da espécie fosse a paradigmática. Exemplo, a humanidade, a declaração dos direitos do homem, etc.

Pergunta (SP): Estou tentando entender essas colocações no plano do simbólico e do Real, é isso?

Pergunta (SP): Oscar podemos dizer que é a mãe através da fala e da nomeação do mundo quem vai apresentar o mundo para criança a partir do seu desejo?


Pergunta (BA): Na formação do inconsciente como se dá o interelação do RSI?

Pergunta (SP): Neste sentido (da constituição do Eu para uma criança cega) o Imaginário lacaniano remete à fantasia, afetos, sensações?

Pergunta (SP): E a relação sexual?

Conexão Lacaniana: a heterogeneidade dos gozos funda a impossibilidade da relação sexual para o homem e para a mulher, assinalando que é o real que comanda esta impossibilidade

Oscar Cesarotto: Há o coito, fato real, e todas as imaginarizações a este respeito, mas não dá para formalizar a cópula entre os sexos de maneira simbólica.

Pergunta (RJ): Acho que a questão é: qual a finalidade de Lacan ter dito que não há relação sexual? O que ele queria apontar?

Oscar Cesarotto: Nilson: yes. O que não impossibilita o amor (imaginário) e fazer amor, ainda bem.

Pergunta (SP): Não haveria simbólico em uma relação específica entre homem e mulher?

Oscar Cesarotto: Entre hoimem e mulher, o simbólico poderia ser a cantada, as palavras da sedução, mas, mesmo escrevendo - sejam cartas de amor ou fórmulas algébricas - resta a diferença sexual como não simbolizável, e o real dos corpos nunca metaforizável por completo.

Pergunta (SP): Oscar neste momento estamos nos relacionando ?

Oscar Cesarotto: Claro que sim, deste jeito, por meio da linguagem, códigos, máquinas, mediações. Você é uma fêmea, eu, um macho, e estamos sublimando.

Pergunta (SP): Espera aí, então o que não existe é a relação? Em uma cadeia de significantes, é isso? Entre os dois que fazem amor?

Conexão Lacaniana: Relação não é coito.

Pergunta (RJ): O senhor acha que no mundo pós-moderno, em que a tecnologia vem trazendo outras formas de nos olharmos além do espelho (fotografias, filmes caseiros, etc), traz um impacto na formação do eu da criança e na formação de sua subjetividade?

Oscar Cesarotto: Nilson, com certeza, as crianças da era tecnológicas já são, de algum modo, mutantes.

Pergunta (SP): Oscar se o olhar é o olhar do outro, a web , o MSN, o orkut não seriam formas de vermos e sermos vistos e assim nos constituirmos, e neste sentido mudaria o simbólico ou só o imaginário?

Oscar Cesarotto: O imaginário, com certeza.

Pergunta (SP): É que me lembrei do homem-ele do Lacan mencionadao pela Marini, e tb que o Homem. Lembro tb que esse Homem é do renascimento, e que o marxismo foi o primeiro a criticá-lo.

Pergunta (SP): Entendo como se as palavra, a linguagem não devem contar de simbolizar a mulher ou a relação sexual, isso é estranho demais

Pergunta (SP): O que seria para formalizar a cópula entre os sexos de maneira simbólica?

Pergunta (SP): Eliane seria, por meio da linguagem, eu penso.

Pergunta (SP): Mas as imagens já nos cercam há muito tempo. O que há de especial no mundo pós moderno em relação à imagem?

Pergunta (SP): As imagens que nos cercam não precisariam de um mediador para nomeá-las e isto não vai mudando conforme o tempo, espaço?

Oscar Cesarotto: O mundo atual tem cada vez mais imagens e, na era digital, o Outro parece ter consistência via computador, alienando.

Pergunta (SP): A imagem é especialmente importante para o mundo ocidental, não o é para outras culturas. Será que houve memso mudanças para nós, ou hopuve apenas excesso, hiperinflação da imagem?

Pergunta (RJ): Na verdade estamos na era da orgia das imagens: video games, sites diversos, televisã, outdoors, revistas, etc etc. Acho que tudo aumenta a sensação de fragmentação, pois tudo é muito picado e sem tempo de elaborar.

Pergunta (SP): Claro que o excesso não é sem consequências.

Pergunta (SP): Posso pensar o computador como o Outro e um outro sem leis precisas?

Pergunta (SP): Compartilho da sua colocação parece que o que muda é a amplitude, as diversas possibilidades de permuta.

Oscar Cesarotto: Cristina e Nilson: Hipertrofia imaginária, ideais superficiais, eu ideal cristalizado.


(RJ): Excelente resposta.

(SP): Bacana, Oscar!

Conexão Lacaniana: Caros, estamos chegando ao fim

(SP): No fim está o Real...

(RJ): Obrigado, professor. Espero que nao tenhamos sido muito caóticos e ansiosos.

Conexão Lacaniana: Gostaríamos de agradecer a especial participação do dr. Cesarotto
e de todos aqui presentes.

 

Núcleo Márcio Peter de Ensino - Conexão Lacaniana
Curso OnLine "Lacan, uma introdução
Conferência 01/04/07 | Moderação: Carla Audi

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