O Deus odioso, o diabo amoroso
Psicanálise e representação do mal
  Márcio Peter de Souza Leite • Jacques Cazotte


• PARTE I
O DEUS ODIOSO - Psicanálise e representação do mal
(Márcio Peter de Souza Leite)
INTRODUÇÁO: História das mentalidades e psicanálise
- Da demonologia ao Iluminismo
1. LUZ E TREVAS
    Jacques Cazotte, um homem do século XVIII
2. A POSITIVIDADE DO MAL
    A aventura da literatura: de um deus odioso a um diabo amoroso
3. O TENTADOR E SEUS FAUSTOS
    Cazotte e Goethe. O diabo como metáfora do desejo proibido
4. O APOCALIPSE DO DESEJO
    A força da Inquisição e o saber da demonologia
5. A NEUROSE DEMONÍACA E O DESEJO
    A demonologia como precursora da psicanálise
6. O BOM DIABO E O MAU DEUS
    Juízo de atribuição, cisão psíquica e moral
7. O HOMEM DE DESEJO
    Lacan e o Outro do desejo
EPÍLOGO: Uma história lógica do tempo: a idade da mentalidade
• PARTE II
O DIABO AMOROSO (Jacques Cazotte)


Resumo

Freud, ao buscar no Fausto de Goethe uma fonte, transportou o conceito do diabo para o campo da metapsicologia como o porta-voz do desejo. Da mesma forma, o conto “O diabo amoroso” de Cazotte recebeu um tratamento por parte de Lacan que também manteve, através do recurso a esta novela, esse lugar do demônio como voz do desejo.

Apresentação
A metáfora do diabo como questionamento do desejo, encontrada por Freud na literatura e explorada nas suas extensas citações ao Fausto, encontraria posteriormente uma seqüência na obra de Jacques Lacan. Trata-se de uma referência a um escritor francês de nome Jacques Cazotte, que no mesmo ano em que Goethe dava início ao seu Fausto, 1772, publicava uma novela com as mesmas inquietações e com uma trama parecida.
Este autor, um típico homem do lluminismo, é ainda lembrado há duzentos anos de sua morte pela qualidade da sua produção literária, que encontrou reconhecimento já entre seus contemporâneos e continuou viva através das repetidas edições e traduções que se fizeram dela até os dias de hoje.
Ele foi um dos primeiros autores a fazer uso da liberdade recém conquistada no jugo da fé, abordando a questão do diabo mais como um referencial ético do que dogmático.
Sua mais conhecida novela, “Le diable amoureux”, questionou, através do recurso quase ilimitado da literatura, a nova relação, entre o desejo e o Mal, possível desde a ética introduzida pelo lluminismo. Posição que não excluía, por outro lado, uma série de superstições e crenças místicas que, ao lado das ciências da época, formavam o universo do homem deste tempo.
Com este conto, Jacques Cazotte também obteve o mérito de ser considerado o precursor do gênero fantástico, que é tão importante para a literatura atual, e merecedor de intenso interesse por parte dos psicanalistas.
Porém, esse autor não ficou conhecido apenas como escritor, foi também uma pessoa de vida aventurosa como os personagens de seus romances. Tinha fama de vidente e, segundo se conta, haveria previsto com exatidão a morte de vários companheiros e a dele próprio, profecia cumprida integralmente pela ação da guilhotina.
Teria sido esta reputação, aliada ao tema do diabo, o que atraiu a atenção de Gerard de Nerval, um outro escritor notável, que lhe dedicou uma biografia?
Em todo caso, a associação do nome de Nerval ao de Cazotte aprofundou a mística em torno dele, pois, após se interessar por este, Nerval teria entrado num processo de loucura que culminou no seu suicídio, reforçando a significação “demoníaca” que já pesava sobre a produção de Cazotte.
Contudo, foi a atribuição de ser o conto “Le diable amoureux”, considerado uma obra iniciática, isto é, possuidora de um saber oculto aí transmitido, a fonte de seu maior fascínio. Pois, segundo consta, Cazotte teria sido “iniciado” num dos muitos movimentos ocultistas existentes na França durante o século XVIII.
Neste livro, Márcio Peter de Souza Leite associa-se a Cazotte e explora as representações do desejo que parecem estar articuladas ao bem e ao mal na história do pensamento no Ocidente.


O autor
Márcio Peter de Souza Leite é médico, psicanalista e co-autor de Lacan através do espelho, O que é psicanálise - 2ª visão e 14 Conferências sobre Jacques Lacan. Editora Escuta • São Paulo • 1991 • 1ª edição


Editora Escuta • São Paulo  • 1991  
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